Johnny Cash At Folsom Prison, o dia em que um fora da lei se rendeu aos condenados

cash

[por Andréia Martins]

“Hello, I’m Johnny Cash”. Com essa frase, em 13 de janeiro de 1968, Johnny Cash dava início a uma gravação histórica: o disco ao vivo Johnny Cash At Folsom Prison. Poderia ser apenas mais um disco ao vivo, gravado em um show comum, no qual a plateia vai até o artista. Não no caso de Cash.

Talvez a parte mais incrível desta história seja a sensibilidade de Cash, que em vez de esperar pela sua plateia, foi até ela na prisão Folsom Prison. Mas antes de falarmos daquela noite, é bom lembrar como essa prisão entrou na vida de Cash.

Nos anos 60, enquanto servia a Força Aérea, Johnny Cash assistiu Inside The Walls of Folsom Prison, filme de 1951 sobre a famosa prisão e, inspirado no filme, compôs o clássico Folsom Prison Blues. Lançada em dezembro de 1955, a canção estourou e, em 1966, Cash apresentou a música na prisão de Folsom.

Apesar dos inúmeros problemas que teve, principalmente com drogas, Cash passou pouco tempo preso. Na verdade, apenas uma noite. Mas os presos se identificavam cada vez mais com as canções daquele cowboy fora da lei, o que foi uma surpresa para ele.

Por isso, ele voltou ao local em janeiro de 1968, contra a vontade da gravadora Columbia que achava a ideia inovadora demais para o conservadorismo norte-americano, para, dessa vez, gravar um disco, com o qual recuperou a popularidade, recuperando seu papel de trovador e tornando-se uma espécie de advogado dos prisioneiros.

“Eu não fui até lá pensando que seria uma cruzada. (…) Apenas não acho que as cadeias funcionam… Nada de bom nunca saiu de uma prisão”, sentenciava Cash.

Folsom Prison, o disco

Johnny Cash-Folsom Prison O disco Johnny Cash At Folsom Prison começa com a clássica Folsom Prison Blues, que fala das advertências de sua mãe para ser sempre um bom garoto, e outros detalhes, como o trem passando, a ausência do sol, a indignação de viver enjaulado enquanto ricos bebem café e fumam seus charutos. Um dos versos mais famosos da canção é: But I shot a man in Reno / Just to watch him die”.

Na sequência, outros hits de prisão, Busted, Dark as the Dungeon, na qual depois do oitavo verso, Cash ouve risadas e solta o seguinte comentário: “Uh huh sem risdas durante esta canção, por favor, está sendo gravado. Vocês não sabem que estamos gravando isto?”, e ainda I Still Miss Someone, sobre a carência afetiva dos encarcerados, Cocaine Blues, sobre a qual não é preciso falar muito e 25 Minutes to GO, sobre os minutos finais de um condenado à morte.

Dentre as 19 canções do disco, além das citadas acima, outras três merecem destaque. Uma delas é Jackson, na qual Cash chama sua companheira, dentro e fora dos palcos, June Carter, para um dueto. Vocês podem imaginar o alvoroço criado pela presença de uma mulher – e diga-se de passagem, uma bela mulher – na Folsom Prison.

I Got Stripes talvez seja a música mais celebrada em todo o disco. Isso porque entre os seus versos, Cash canta “I got stripes around my shoulder”, frase que fazia os presos assoviarem, aplaudirem e gritarem. A euforia tinha razão de ser: um grande cantor estava ali dizendo que entendia tudo o que eles estavam vivendo e que, na verdade, era como eles.

Os 15 minutos de fama de Glen Sherley

Para coroar o respeito do cantor para com sua plateia, Cash encerra o disco com uma canção feita por um dos prisioneiros da Folsom.

Preso por assalto a mão armada, Glen Sherley teve sua canção, Greystone Chapel, sobre a capela da prisão, interpretada de surpresa por Cash no show. Antes de interpretá-la, Cash estende a mão ao detento, que estava sentado na primeira fileira, e o apresenta com o autor da música.

A música havia sido apresentada a Cash e sua banda, a Tennessee Three Marshall Grant, pelo reverendo Gresset, um grande amigo do cantor e que atuava com os presos da Folsom Prison. Depois do show, Cash e June se compadeceram do sonho de Sherley de tornar-se cantor.

Johnny Cash intercedeu para que Sherley conseguisse a liberdade e o levou para a estrada. Além de música, fizeram diversas denúncias sobre o sistema prisional norte-americano. Mas, problemas com drogas e a incapacidade de se ressocializar levaram o ex-detento ao suicídio em 1978.

Para quem quiser saber mais sobre esse disco mítico, além de ouvir o disco, vale conferir o documentário Johnny Cash at Folsom Prison, de Bestor Cram. Como não há imagens sobre o show, apenas fotos, e o relato é composto de entrevistas de quem participou da gravação do disco.

“Se Johnny tivesse dito ‘vamos fugir daqui’, os detentos o teriam seguido”, afirmou o fotógrafo Jim Marshall, responsável por todas as imagens do show que aparecem na tela. Rosanne, filha de Cash, diz no filme que foi justamente este momento na prisão de Folsom, apesar de toda a carga negativa que uma prisão pode ter, que Cash se tornou quem realmente era.

E se At Folsom Prison é mesmo a obra que fez de Johnny Cash quem ele realmente era, não há necessidade de justificar a importância deste disco, para ele e para os homens que tiveram, ainda que por algumas horas, um dia inesquecível entre as paredes da Folsom Prison.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=v7gV5C5mB7A]

Disco: Johnny Cash At Folsom Prison – Live

Ano: 1968

Gravadora: Columbia Records

Faixas: 1- Folsom Prison Blues / 2- Busted / 3- Dark as the Dungeon / 4- I Still Miss Someone / 5- Cocaine Blues / 6- 25 Minutes to Go / 7- Orange Blossom Special / 8- The Long Black Veil / 9- Send a Picture of Mother / 10- The Wall / 11- Dirty Old Egg Sucking Dog / 12- Flushed from the Bathroom of Your Heart / 13- Joe Bean / 14- Jackson / 15- Give My Love to Rose / 16- I Got Stripes / 17- The Legend of John Henry’s Hammer / 18- Green, Green Grass of Home / 19- Greystone Chapel

2 thoughts on “Johnny Cash At Folsom Prison, o dia em que um fora da lei se rendeu aos condenados

  1. Legal!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Este disco é um clássico absoluto!!!!!!

    Vocês vão cobrir a Passeata em homenagem aos 20 anos sem Raul Seixas na sexta-feira (21/08)?

    Acho que seria bem legal se vocês fizessem uma matéria sobre ela. O Sylvio Passos (amigo de Raul e presidente do Raul Rock Club) estará lá, vocês podem tentar falar com ele.

    Abraços!

    Fábio Levatti

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *