Meno Del Picchia abre seu baú de heranças pessoais e musicais

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[por Andréia Martins]

No ambiente onde cresceu Meno Del Picchia, em Bragança Paulista, o gosto pela arte foi passado de pai para filho. O pai era médico, mas pintava, esculpia e tocava piano por puro prazer. Com o avô materno Zicão, Meno descobriu o som das raízes brasileiras como a catira, a moda de viola e a Folia de Reis. Do bisavô paterno, o poeta e pintor Menotti Del Picchia, herdou o lado modernista. Tudo era um conjunto de pistas do que o futuro reservava para Meno: pinturas, esculturas ou música. A escolhida foi a última opção.

“A música não foi exatamente natural, fui estudar com professores de fora da família e fui me envolvendo. Com certeza essas referências em casa me empurraram para o lado da arte como profissão, como ganha pão e diria até como missão”, conta Meno ao Palco Alternativo.

No início da década de 90, Meno passou a estudar música, dando início às primeiras bandas e parcerias. Agora, depois de anos tocando com nomes como Bocato, Tião Carvalho, Ricardo Teté, Danilo Moraes, Ricardo Herz e Fabiana Cozza, entre outros, ele se desafia ao lançar seu primeiro disco, Meno Del Picchia, acompanhado de Fê Sztok (guitarras e voz), Henrique Alves (baixo) e Cláudio Oliveira (bateria).

A sólida experiência como músico não facilitou a nova empreitada de Meno, que  agora se revela para o público mostrando seu lado compositor e cantor.

“É muito mais fácil você acompanhar um artista do que ser o artista, dar a cara pra bater, se arriscar, mostrar suas criações que, de certa forma, refletem um pouco sua intimidade, sua essência, valores e ideias acerca do mundo. O instrumentista fica mais escondido e sua principal preocupação é tocar bem naquele show”, conta ele.

O disco mistura, em 12 canções, rock (nas faixas Perfeição, Sofá, Duvidar de Mim com guitarras marcantes nas músicas), samba (Quando ela samba, A poetisa que casou, Castelo de Pão, Carapia, mais um samba jazz), MPB e baladas, como Acaso, Causar, My Eyes Contact, Receio bobo que, conquista com um verso fofo: “Que receio bobo foi não dar cafuné / Que receio bobo foi deixar pra depois…” e Maju no Sagui, com um violão delicado, feita para filha.

A mistura de sons é resultado da convivência com diferentes músicos, viagens por diferentes estilos e de gente como Charlie Parker, Jaco Pastorius, Herbie Hancock, Radiohead, Los Hermanos, Beatles, Pink Floyd, Gil, Geraldo Pereira, Luiz Gonzaga e por aí vai.

menodelpicchiaEsse leque de referências facilitou ou dificultou a produção do disco?

Meno – A diversidade facilitou a realização do disco e dificultou na formatação de um show coeso e coerente. Foi fácil escolher o repertório do disco. Coloquei as músicas que eu mais gostava de tocar na época e por acaso saiu samba, rock, instrumental, balada, um monte de coisa diferente. O difícil é fazer um show bacana juntando tudo isso.

Quais parcerias você trouxe para esse disco?

Meno – Nas composições não tive parceria com ninguém. Teve parceria na produção com o Juliano Polimeno, que fez algumas programações eletrônicas, e convidei o Bocato, que tocou em algumas faixas, o Tatá Aeroplano, que cantou comigo e tocou seus brinquedos mágicos em No Eyes Contact e o Zé Pi dos Druques tocou guitarra em Acaso. O resto foi bem Meno del Picchia.

E seu lado compositor. É recente ou você coleciona letras já há algum tempo?

Meno – Eu componho desde moleque, desde que aprendi os primeiros acordes. No começo, me lembro que compunha músicas tirando sarro de figuras da minha infância, amigos engraçados e acontecimentos marcantes como uma primeira namorada. As músicas do disco são mais recentes, teve música nova que entrou na última hora e teve música feita há 4 ou 5 anos. Por exemplo, Maju no Sagi, fiz pra minha filha em janeiro e gravamos em abril de 2008.

discomenoAchei a capa do disco bem interessante. Qual a história dela?

Meno – A capa foi uma ideia conjunta minha e do Ju Polimeno. Ele conheceu meu pai e os quadros dele, foi automático e instantâneo pra nós decidirmos colocar um quadro do Menotti pai na capa. Toda arte da capa está baseada no seu quadro. É uma forma de homenageá-lo. Ele morreu jovem aos 39 anos e deixou muitas esculturas e quadros que nunca foram expostos, nem publicados. Às vezes eu brinco que quero fazer um disco para cada quadro dele pra catalogar sua obra na forma de capas de disco.

O disco solo não vai atrapalhar as parcerias com os velhos amigos, mesmo porque para Meno, o caminho para um instrumentista (que toca com os outros) tornar-se artista (aquele que chama os outros) é gradual.

“O mercado está num momento muito intenso com muita gente lançando trabalhos novos, os lugares para tocar não suportam o volume de trabalhos novos o que torna uma turnê de primeiro disco um negócio arriscado. O outro lado é que muita gente boa me convida pra tocar. Só nesse ano fiz shows com Didier Lockwood e Ricardo Herz, Ricardo Teté, Cris Aflalo, Druques, banda SOS, Margareth Reali, enfim, ainda é inviável para mim, manter a vida na arte sem tocar e criar com essa turma toda”.

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Já está pensando no próximo disco?

Meno – Tenho pensado muito, quero gravar no ano que vem. As músicas estão prontas, a única coisa que não tá pronta é a conta bancária (risos). É uma brincadeira cara gravar disco, mas eu não quero parar no primeiro. Tem muita música que ainda quero mostrar.

Você vai lançar o disco em São Paulo no dia 29 de setembro, no SESC Pinheiros. O que o público pode esperar desse show?

Meno – Vou tocar o disco inteiro no formato quarteto que está com uma pegada de rock bem forte. Estamos puxando os sambas e baladas paro lado mais rock do disco. Aliás, a banda é composta por Fê Sztock na guitarra e backing vocal, Henrique Alves no baixo e Cláudio Oliveira na bateria. Vou tocar uma música nova, só eu e violão, chamada Primo Raimundo e vou tocar uma versão que fiz para House of Cards do Radiohead.

Ouvi falar dessa versão de House of Cards, mas não consegui ouvir. Ela tem algum significado especial para você?

Meno – Adoro Radiohead, foi um dos melhores shows que assisti na minha vida. House of Cards, para mim, fala de como as coisas podem mudar facilmente, ruir, melhorar, enfim, acho que a poesia da letra fala da transitoriedade de tudo na vida e de como temos que tentar manter a serenidade, mesmo que tudo entre em colapso ao nosso redor. Além disso, tem um riff de guitarra matador. A minha versão é uma versão mais intimista e simples, menos forrada de ruídos e texturas que a do Radiohead. Ao mesmo tempo, toco ela mais solta e improvisada, citando o riff deles e colocando melodias de guitarra que são criadas na hora com a banda me seguindo sem muito combinado.

Quem quiser conhecer mais do som de Meno é só acessar: www.myspace.com/menodelpicchia ou aparecer no Sesc Pinheiro, no dia 29 de setembro para o show de lançamento do disco.

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