Viajante do mundo

Rao Caiuá tocando harpa em São Thomé das Letras. Foto: Natasha Ramos

[Por Natasha Ramos]

Rao Caiuá Buganeme Mardegan. O nome pode soar incomum, mas mais incomum ainda é sua música. Meu primeiro contato com ela foi em São Thomé das Letras (MG), quando em um bar de rock local, ouvi um instrumento de som bem peculiar. Fiquei sabendo, pouco depois, pelo próprio Rao que aquele instrumento de som e aparência únicos é chamado didgeridoo.

“Comecei a tocá-lo com uns dezenove anos e, desde então, sigo estudando e evoluindo nesse instrumento”, conta Rao ao Palco Alternativo.

Ainda pouco conhecido no Brasil, o didgeridoo (yidaki) é um instrumento de sopro, desenvolvido por indígenas no norte da Austrália há cerca de 1.500 anos; é um dos mais antigos instrumentos que se tem registro.

Rao Caiuá tocando o didgeridoo. Foto: Natasha Ramos

“Por ser um instrumento simples, mas com uma riqueza imensa na variação sonora, é bem trabalhoso aprimorar e compreender novas técnicas”, explica.

Além do didgeridoo, outro instrumento pouco usual na pesquisa de Rao é a Harpa, adquirida no começo de 2013. “A Harpa é o instrumento mais prazeroso de estudar, por ter uma melodia sempre agradável independente do que se faça, mas exige muita dedicação para treinar os dedilhados…”

Autodidata, Rao sempre teve uma forte ligação com a música. Segundo ele, “desde quando estava na barriga de minha mãe e ela cantava e tocava para mim”. Seu primeiro instrumento foi um acordeon pequeno, que ganhou aos cinco anos de idade. Mas, sua jornada musical começou mesmo com a flauta, aos nove anos, quando começou a tentar tirar as músicas de ouvido. “Eu ligava a rádio e tentava acompanhar a música que tocasse… Aos treze anos, comecei a participar de apresentações ao vivo, improvisando com microfone nos bares de São Thomé. Assim, adquiri essa prática e a percepção musical, que facilitaram meu processo de aprendizagem de um novo instrumento.”

De lá para cá, Rao não parou sua pesquisa musical. Aos quinze, começou a estudar clarinete, herança de seu pai e único instrumento com o qual teve aulas por dois anos. Nesse mesmo período, aprendeu o básico de violão. Ainda nessa idade, ganhou um teclado que, posteriormente, trocou por um violino. Também tocou sax tenor, mas “por não possui um, não evolui tanto”.

No quesito flauta, instrumento que possui mais familiaridade, sabe tocar diversos tipos, como as irlandesas (Tin Whistle), as chinesas (Dizi), as indianas, as indígenas… Hoje, possui uma variedade de quarenta tipos de flautas.

“Toco diversos modelos de flauta doce: sopranino, soprano, contralto, tenor e baixo. É o instrumento que tenho mais intimidade e um dos que mais gosto!”, conta. Às vezes, quando vem à São Paulo, Rao costuma tocar a flauta soprano nos metrôs, chegando a ganhar em média sessenta reais por hora.

As Jam Sessions de Rao

Apesar de sua música seguir num sentido bem específico, Rao tem a facilidade de adaptar sua melodia à da banda que acompanha. No show em que conheci o músico, o grupo Maximum Overdrive fazia versões de clássicos do rock’n’roll acompanhados por ele e sua flauta, didgeridoo, etc., dando origem a versões bem inusitadas das músicas dos Rollings Stones, Beatles, dentre outras.

Apresentação da banda Maximum Overdrive com a participação de Rao Caiuá. Foto: Natasha Ramos

Prolífico, Rao é um artista nato. Além de seu profundo trabalho de pesquisa com a instrumentos musicais, ele ainda é malabarista, desenhista e artesão. Está há doze anos em atividade, tocando, desprestensiosamente, em bares, em apresentações solo do seu trabalho ou acompanhando bandas, em alguma festa ou “reunião de amigos”. Chegou, inclusive, a tocar com o grupo de reggae Planta & Raiz e o lendário músico hippie Vetania.

O multi-instrumentista leva na bagagem dois discos com músicas próprias lançados de maneira independente: “Inspirante”, lançado em 2009, e “Viajante Estelar”, de 2012. “Em breve, devo lançar meu terceiro disco com harpa, didgeridoo e muitas flautas diferentes”.

>>Para ouvir a música de Rao Caiuá, clique aqui.

Rao é um cidadão do mundo, livre, que segue tocando sua música atmosféria e étnica para quem se interessar em ouvir. Seja em super shows, como artista de rua ou em uma confraternização entre amigos, com ele não têm tempo ruim. Assim, ao longo de sua estrada, o músico tem muita história para contar.

“Teria milhares de locais e situações para contar, mas acho que isso se reserva para a compreensão só de quem estava nestes locais, e momentos assim não podem ser descritos da forma como aconteceram…”

E quais são seus planos para o futuro?

“Viver o presente! Talvez montar um centro cultural em São Thomé para desarrojar projetos musicais, e ajudar culturalmente a cidade! Talvez viajar livremente pelo mundo! Não tenho planos formados, vou de acordo com que o universo coloca como mais apropriado para o momento!”, diz Rao.

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