O dia em que o Combover encontrou o Eagles of Death Metal

Comover é Caio, Carlos e Billy. Foto: Divulgação/Freelas de Una Pauta
Combover é Caio, Carlos e Billy. Foto: Divulgação/Freelas de Una Pauta

Sabe aquela história de estar no lugar certo, na hora certa? Isso aconteceu com a banda paulistana Combover. O que prometia ser apenas um dia de gravação do segundo disco da banda, intitulado Bomcover, acabou se tornando um encontro inusitado com os caras do grupo californiano de stoner rock Eagles of Death Metal. Sim, Jesse Hughes e cia. estavam na cidade por conta do festival Lollapalooza 2016, onde foram uma das atrações principais.

Ao saber que os caras do EODM estavam num bar em Pinheiros (zona oeste de SP) ao lado do estúdio Aurora onde estava rolando as gravações, o vocalista da Combover, Carlos Eduardo Freitas ou Don Carlón – persona que assume à frente da banda – não teve dúvidas: foi tomar uma cerva e trocar uma ideia com os gringos. Papo vai, papo vem, Freitas comenta de seu estúdio, o Aurora, que era ali do lado, os caras resolvem dar um pulo lá para conhecer e acabam gravando os backing vocals da música “Comic Sans”, faixa que integra a Bomcover.

“Foi um acaso delicioso. Estávamos nos preparando para gravar as últimas participações especiais do disco quando o Jairo, baixista da Sheila Cretina, comentou com o Caio que os caras estavam no Underdog, bar do Jão (Ratos de Porão), que fica ao lado do estúdio. Descemos lá e começamos a conversar com eles. Quando comentei que eu era sócio de um estúdio ali do lado, o Jesse e o Dave Catching piraram e falaram que queriam conhecer”, disse Freitas.

A Combover nasceu em 2012, com o fim da primeira formação da Bloodbuzz, outra banda de Freitas. “Depois do último show, o baterista (Pablo) anunciou que deixaria a banda depois que gravássemos nosso disco de estreia e tocássemos na Virada Cultural. Uma semana depois disso, a Susan, vocalista, saiu e perdemos a oportunidade de gravar e de tocar na Virada. Como tínhamos ensaio marcado, eu, o Pablo [‘el Pulpo’, baterista] e o Ian [le Ours, baixista], resolvemos aproveitar o ensaio que já estava agendado para fazer uma jam e, mesmo que pela última vez, fazermos algo juntos. Daquela jam nasceram três músicas e, na pausa que sempre fazíamos para tomar uma cerveja, ficamos empolgados com o que rolou e resolvemos começar uma banda nova ali, com praticamente a mesma formação, mas comigo assumindo os vocais – algo que nunca tinha feito antes”, explica Don Carlón. Assin, naquele momento, o Pablo resolveu permanecer na banda, que acabou se tornando um trio, a Combover.

O nome da banda, aliás, é como se chama o típico penteado para disfarçar a calvície. “Eu e o Ian éramos colegas de trabalho na [revista] Trip. Um dia, no almoço, não me lembro por que motivo o assunto caiu em penteados e ele comentou que havia visto um documentário hilário sobre combover, o tal penteado pra esconder a careca, na TV a cabo. Fiquei surpreso que alguém além de mim tenha visto esse filme, chamado “Combover: the Movie” (se alguém tiver isso baixado ou em DVD, pelo amor de deus, copia pra mim!!!) e rachamos o bico por horas. No dia do tal ensaio póstumo do Bloodbuzz, na tal cerveja do intervalo, lembro de termos começado a pensar em nomes e o Ian sugeriu: ‘Por que não Combover? É uma palavra só, um nome forte e é uma coisa engraçada’. Nem teve discussão”, conta Carlos.

Além de Don Carlón, o power trio é formado atualmente por Billy Comodoro (baixista) e Caio Casemiro (baterista), que juntos tocam o autêntico rock and roll reto e direto. O Palco Alternativo conversou com o vocalista, que nos contou mais sobre o seu encontro com os caras do EODM, o lançamento do disco, as mudanças na formação, a turnê pela Europa e mais. Confira!

Foto: Divulgação/Freelas de Una Pauta
Foto: Divulgação/Freelas de Una Pauta

Palco Alternativo: Vocês lançaram recentemente o disco Bomcover, no último dia 1o de abril. O álbum é uma regravação do primeiro trabalho de vocês, lançado em 2013, e agora contando com diversas participações especiais, como Adriano Cintra, Juninho Bill, do Trem da Alegria, e os caras do Eagles of Death Metal. Por que fazer cover das próprias músicas?
Don Carlón: “Bomcover” é a regravação do primeiro disco do Combover. E foi lançado no dia 1º de abril justamente por ser uma mentira, uma piada. A história nasceu pelo seguinte. Em 2014, depois de quase um ano engavetado e da saída do Pablo, lançamos o disco, fizemos o show de lançamento já com um baterista novo, o Fabio, e a banda praticamente parou, porque o Ian anunciou que sairia para se dedicar apenas à outra banda dele, a Monocelha. Testamos um outro baixista, o Pedro (Japanese Bondage/Danger City), mas ele estava prestes a lançar o primeiro trabalho do Danger City e acabado de começar num emprego e não pode se dedicar à banda. Nisso, o Billy Comodoro, meu sócio no Estúdio Aurora, comentou que toparia assumir o baixo. Topei na hora. Ele, então, começou a encher minha paciência pra regravarmos o disco, que na opinião dele, estava muito mal-executado. Ele gosta das músicas e acha que elas mereciam uma apresentação melhor. O coro ganhou força com minha ex-namorada. Foram meses de encheção, enquanto eu insistia em enterrarmos isso e gravarmos coisas novas. No fim, acabei cedendo, mas com uma condição: que o disco fosse uma espécie de tributo ao Combover, em que vários membros de bandas que gostamos participassem de alguma maneira e que o disco se chamaria Bomcover por sermos a primeira banda a se tornar cover de si própria do primeiro para o segundo disco. Basicamente, uma desculpa esfarrapada pra explicar por que raios regravar músicas que já estavam prontas e não darmos um segundo passo.

Palco Alternativo: Quem foram os convidados para esse “disco tributo”?
Don Carlón:
Chamamos então o Guga Almeida, baterista da formação original do Zefirina Bomba e com quem toquei no Orange Disaster, para gravar as baterias e outros amigões pra dar um toque especial ao disco. Participaram o Tainan Rocha (Monocelha), o Marcão de Castro (Coice), o Demian Grull (Comodoro), a Sheila Cretina (banda do atual baterista do Combover, o Caio Casemiro), o Aécio de Souza (Bloodbuzz), o Júlio Cesar Magalhães (Orange Disaster), o Pedro Gesualdi (Danger City e Japanese Bondage), o Francisco “Gran Fran” Borelli (Japanese Bondage) e a Quarteta (banda da minha namorada, a Helena). E, no fim, ainda conseguimos colocar três participações especialíssimas de pessoas que admiro muito. Primeiro, o Juninho Bill, do Trem da Alegria. Eu queria ser ele quando era criança. Ele era sensacional. Quando soube que ele e o Billy eram amigos, não parei de azucrinar. Depois, o Adriano Cintra, uma lenda do rock independente brasileiro. Era fã dos Butchers, era fã do Cansei de Ser Sexy quando ele estava na banda e sou fã da banda nova dele, o Krokodildos, que ensaia no nosso estúdio. E ele é o único músico independente daqui que conseguiu abrir portas no mainstream brasileiro. Por fim, a surreal participação dos Eagles of Death Metal. Ou seja: a piada saiu melhor do que a encomenda.

Palco Alternativo: Vocês modificaram as faixas?
Don Carlón: A estrutura das músicas é a mesma, a ordem delas no disco é a mesma. Tiramos apenas a última, instrumental, ainda não sei por que, mas não reclamo. As principais diferenças estão na qualidade e na precisão da execução de todos os instrumentos.

Palco Alternativo: Na ocasião do Lollapalooza, vocês tiveram a sorte de encontrar os integrantes do Eagles of Death Metal, tomaram uma cerveja com eles e ainda gravaram backing vocals com os caras para a música “Comic Sans” do disco novo do Combover. Como foi encontrar com Jesse Hughes e cia.?
Don Carlón: Foi um acaso delicioso. Estávamos nos preparando para gravar as últimas participações especiais do disco quando o Jairo, baixista da Sheila Cretina, comentou com o Caio que os caras estavam no Underdog, bar do Jão (Ratos de Porão), que fica ao lado do estúdio. Descemos lá e começamos a conversar com eles. Quando comentei que eu era sócio de um estúdio ali do lado, o Jesse e o Dave Catching piraram e falaram que queriam conhecer. Aí, disse que estávamos terminando de gravar as ditas participações e perguntei: “Se vocês quiserem fazer uma participação…” O Jesse pirou na ideia. “Nossa, sensacional! Quero MUITO. Já pensou, deixar uma marca no rock brasileiro?” E eles foram mesmo. E se divertiram bastante com a gente. Tanto que no dia seguinte, após o show, nos encontramos novamente.

Palco Alternativo: Sobre o que vocês conversaram?
Don Carlón: Putz, conversamos sobre muita coisa. Principalmente sobre rock, gravações, guitarras esquisitas, histórias impublicáveis… O mais bacana foi que eles mostraram ser gente como a gente. Gente que curte rock’n’roll e está disposta a fazer tudo para viver o sonho que é ter uma banda e tocar. Tenho certeza que se fossem outros artistas, dificilmente essa história teria rolado.

Palco Alternativo: Vocês sairam em turnê pela Europa nesta segunda-feira (18). Quanto tempo vão excursionar e onde vão tocar?
Don Carlón: Vamos passar 20 dias entre a Alemanha e a Bélgica. Das cidades conhecidas, vamos tocar em Hamburgo e Bonn. De resto, em cidades menores, onde os shows costumam ser mais cheios e divertidos – afinal, você é a única atração na cidade numa quarta-feira à noite…

Palco Alternativo: Onde é possível ouvir/comprar o disco de vocês?
Don Carlón: Dá pra ouvir, baixar e comprar na nossa página no Bandcamp. Colocamos o download gratuito, mas qualquer ajuda será sempre bem-vinda. Prensamos uma pequena tiragem de CDs, que estarão à venda em todos os nossos shows. Além disso, quem quiser pode entrar em contato com a gente pelo Facebook da banda.

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