ENTREVISTA: “A Arte é Luta”, diz Fernanda Takai

Foto: CUCA da UNE
Foto: CUCA da UNE

[Por Natasha Ramos, de Belo Horizonte]

Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu, foi uma das artistas mineiras que participou do ato pelas Diretas Já, no último dia 16, organizado pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reuniu músicos e políticos na Praça da Estação, no centro de Belo Horizonte, pelo Fora Temer. Acompanhada da também artista mineira, Érika Machado, com quem tem tocado já há algum tempo, Takai subiu ao caminhão de som e tocou duas músicas para um público de 40 mil, repleto de estudantes, que participavam do 55º Congresso da União Nacional dos Estudantes. O evento estudantil aconteceu de 14 a 18 de junho na Universidade Federal de Minas Gerais e no ginásio do Mineirinho.

“É muito importante que nós tenhamos aqui hoje mais expressões da música de Minas. E todos que não são de Minas também são muito bem-vindos”, disse Takai, entre uma música e outra.

“É muito importante também a gente mostrar que a gente tem vontade e que a gente não concorda com toda essa trapalhada que andam fazendo com os direitos da gente”, completou Érika.

O Palco Alternativo bateu um papo com elas, que falaram sobre a importância de se posicionar nesta situação política conturbada por que passa o país, e chamou outros artistas e a sociedade brasileira a tomar um lado neste momento da história. Se liga na entrevista!

Palco Alternativo: Qual a importância de artistas se posicionarem e participarem de atos como esse de BH?
Fernanda Takai: A gente quer multiplicar, dar mais visibilidade a essa ideia das diretas já e do fora temer. A gente pode fazer isso como artista, mas o nosso voto vale a mesma coisa do que o de todo mundo.

A ideia é que todo mundo se mobilize, todo mundo faça a sua parte.A gente conseguiu fazer um pouquinho hoje (16), que é participar com a arte. Como falei no palco, a arte é luta. Você usar a arte para propagar uma ideia, discutir assuntos é sempre luta.

Érika Machado: Como artista e trabalhando com linguagem, o que a gente pode fazer para mostrar que não somos de acordo com o que estão fazendo com os nossos direitos e com o nosso país é participar de um evento como esse. E mostrar para todo mundo que também não concordamos. É muito importante a presença de todo mundo, as mulheres…Eu além de mulher, também sou gay, então [isso] é muito importante pra mim, pra minha presença neste mundo, esses direitos mexem muito com o nosso conforto aqui na vida.

Palco: Vocês acham que a presença de artistas, principalmente das mulheres, em atos assim dão mais peso a essas mobilizações?
Fernanda: Eu toco com a Érika [Machado] já há algum tempo, somos super fãs uma da outra, eu faço questão de sempre chamar a atenção: é preciso ter mais presença feminina. Tem que ter as mulheres lá ocupando. A ocupação tem que ser feminina.

Palco: Esse tipo de iniciativa faz a diferença?
Érika: Já vimos que atos como esse mudaram a história lá atrás, na época da Tropicália, foi muito importante para que essa mudança acontecesse, e esperamos que isso aconteça de novo.

Fernanda: E quem não está aqui que esteja da próxima vez. [Nossa presença aqui] Foi uma demonstração que estamos a fim de fazer alguma coisa. E a gente precisa que outras pessoas também estejam. É um movimento que tem que ser cada vez mais forte, pelo volume mesmo de pessoas.

Não adianta mais a gente ficar solitariamente fazendo uma “lutinha”, tem que ser uma luta de coletivo.

Palco: A presença da mulher nas lideranças políticas dos movimentos estudantis contribui para esse sentimento mais coletivo entre políticos, artistas e os movimentos sociais?
Fernanda: A gente vê essas lideranças dos estudantes aqui, a Ana Júlia [militante secundarista que ficou conhecida por discursar na assembleia legislativa do Paraná acerca das ocupações], que está aqui, a Carina [Vitral, presidenta da UNE na gestão 2015-2017], a Camila [Lanes, atual presidenta da UBES], pessoas que representam tão bem um povo novo que vem com vontade de fazer alguma coisa a respeito da sua própria realidade, é um exemplo pra gente. Na minha época, eu não fazia nem 30% do que essa juventude vem se mobilizando e se a gente consegue agregar políticos, outros artistas, entidades, organizações sejam quais forem, a gente precisa achar pontos em comum. Nosso ponto em comum agora, imediatamente, é tirar o Temer e ter Diretas Já.

Eu fico muito feliz de estar nessa boa companhia, dessas pessoas que se organizam, cobram uma das outras participação. Então, como artistas, a gente está cobrando outros artistas para que eles também façam isso.

Palco: Como artista, ao assumir uma posição política, naturalmente, há aqueles que podem discordar. Essa é parte da explicação porque alguns artistas preferem não se posicionar?
Fernanda: Alguns não estão aqui por agenda mesmo. Mas, tem pessoas que são realmente mais… acuadas, recatadas… recatadas e do lar (risos). E não querem dar opinião. Temos que respeitar também. Mas, acho que chega um momento que o endosso de cada um, nem é como artista, mas como cidadão é importante. Então, se você não quer cantar, ou não é artista, o que você pode fazer para mudar isso? A arte é sempre mais suave, legal a música ter mulher, virmos protestar com inteligente, com delicadeza, no mundo inteiro isso está faltando, pessoas que poderiam estar aqui.

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