Babilaques: música e poesia, do Iggy Pop ao ZZ Top e à Zizi Possi

BABILAQUES
Babilaques: derrubando os muros de Berlim da arte

[por Andréia Martins]

Pegue uma pitada de poesia, duas colheradas de distorção nas batidas sonoras e uma dose de irreverência sessentista nos sentidos. Bata tudo no liquidificador e prepare-se para conhecer os Babilaques.

O banda cruzou o caminho do Palco Alternativo assim, por acaso, na madrugada da última Virada Cultural, em São Paulo, na Casa das Rosas. Naquele dia, os Babilaques – Axé Silva (guitarra), Cacá (voz) e Gabriel Ruman (violão e baixo), além dos músicos convidados Remi Chatain (sopros, vibrafone, baixo e percussão), Gustavo Galo (voz e violão) e Fran Landim (percussão e voz) – faziam sua estreia.

“Fazer nossa estréia na Casa das Rosas culmina com a ideia central que Os Babilaques desejam: nossa proposta é desenvolver um projeto cultural. Fundir poesia e música e brotar dessa junção algo chamado canção é uma das vertentes que desejamos mostrar”, diz Axé.

Mix de gerações

Uma das coisas que mais chama atenção na banda é a diferença de gerações entre os integrantes, algo curioso, mas que parece ser justamente o flavour dos Babilaques.

CARVALHO
Axé e Carvalho

“Sou oswaldiano: só me interessa o que não é meu. É a diferença que me traz o que eu não tenho. Tenho tédio da redundância, da mesmice, do tudo igual: chega de chocar de novo o mesmo velho ovo. Quero algo de novo sob o sol: quero a diferença! Sou pós-tropicalista: curto a estética da mistura, adoro conjugar os contrários. Sou blakiano  – saca aquele poeta visionário inglês que influenciou os Doors? – sem os contrários não há progresso. No mesmo caldeirão, a gente cozinha diferentes idades e estilos. A gente bate tudo no liquidificador”, diz Carvalho, ou Cacá.

Misturar gerações significa misturar influências e experiências. Cacá e Axé compartilham histórias, sejam dos 20 anos de profissão como professores de cursos pré-vestibulares ou da caminhada com o PT apoiando “um Lula ainda de esquerda”, nas palavras de Cacá, até o nascer do rock oitentista com a Blitz, Barão, Legião e outros.

Já Gabriel é ex-aluno de Cacá. “Com ele construo outra história,  saco novos comportamentos da geração dele, sinto outra vibe”, conta Cacá, que já descobriu que a gente envelhece mesmo é na mente e não no corpo:

“Às vezes com 20 você tem mais a dizer do que o cara com 40. Às vezes com 20 é um caretão. Lembro do Rogério Duarte, guru dos tropicalistas, dizendo em seu livro Tropicaos que falta muita chama nestes jovens velhos. A garotada tem pressa,  procura o mesmo que os pais, como na música Como nossos pais. Vieram ao mundo para repetir, não para criar. Jovem sem ousadia é velho, pô!”.

Para Gabriel, a ideia é a mesma: “Há diferenças claras no perfil de cada um. Cada um traz novas referências, novo material.  Sintonia e identidade. As relações não têm porque se limitar a congruências etárias. Somos todos diferentes, mas essencialmente convergentes”.

O início

Os Babilaques nasceram num encontro entre amigos, numa tarde de sol à beira da piscina. Cacá mostrou alguns de seus poemas, Gabriel pegou o violão e começou a tocar ‘algo’ que tinha inventando nas férias e que não saía da cabeça. “Me deixava obcecado-atormentado-fascinado (algo bem simples do ponto de vista musical, nada demais)”, diz ele. Mau, outro amigo, disse: ‘continua tocando! Não para!’. “Aí nasceu nossa primeira composição, Desoriente-me”, conta Gabriel.

O nome

O nome foi inspirado na palavra criada por Waly Salomão para dar nome à sua proposta artística, um nome livre de definições, ideias e sentidos. “É um nome que abole a fronteira entre os gêneros: os babilaques de Waly não eram foto, pintura, caligrafia, poesia, mas tudo ao mesmo tempo agora. Tudo a ver com a nossa ideia de derrubar os muros de Berlim das artes…”, diz Cacá.

Poesia que nasce música, música que nasce poesia ou pororoca que vira canção?

Entre uma poesia musicada e outras que já cantavam silenciosamente no papel, Cacá não se diz compositor, apenas letrista. Até parece coisa fácil. “Não consigo dar vida sozinho às letras que escrevo. Dependo dos meus parceiros, como extensões de mim. Quando minhas letras encontram as melodias que eles criam, viram uma pororoca chamada canção”, diz.

“Quando escrevo, procuro ouvir o ruído das letras no papel, a música das palavras no texto. É um ouvir meio de surdo: ouvir no silêncio da página, perceber o ritmo e a cadência dos versos” completa ele.

gabriel
Gabriel: "Ouvivemos (ouvimos, vivemos e vemos) a música, ou nada!"

“Às vezes se juntam materiais inteiros, às vezes se juntam meia-letra com meia-música, outras vezes surge a música ou a letra no momento, não possuímos padrões”, diz Gabriel, que vai pela percepção, ao se deixar sentir e levar pelo que cada música pede da melodia. “Ultimamente, cada vez mais viemos compreendendo melhor o que significa uma canção. A canção em si tem sua própria linguagem. Palavra e música devem conversar”.

Para ouvir os sons babilaquianos

Todo o mês, em uma quarta-feira, a Casa da Rosa torna-se palco da Revista Cultural, um projeto que une artes com um tema específico, funcionando como uma Revista ao vivo. E quem está lá: os Babilaques.

“Nesse projeto realizamos um bate-papo com o público e convidados especiais. Alinhavando isso tudo estão nossas canções e outras que estejam ligadas ao tema central da apresentação”, explica Axé. Para novembro e dezembro os temas serão Edgar Alan Poe e Natal, respectivamente.

Fora isso, o site – www.babilaques.com.br – deve ficar pronto em breve e em novembro, a banda começa a gravar músicas para disponibilizar no MySpace. Aliás, por lá você já ouve uma canção: “Sabor com Flavour”.

Para mais do flavour babilaquiano, você pode assistir a alguns vídeos gravados na Virada Cultural e sentir um gostinho desse mix de poesia, música, performance, convergência, transferência, palavras, versos, rimas …

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