Sérgio Sampaio mais popular do que maldito; Zeca Baleiro prepara novo relançamento

Sampaio

(por Andréia Martins)

O altar da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, não é habitado apenas pelo trono do rei Roberto Carlos. Você pode até não conhecê-lo, mas há ali outro importante nome da música popular brasileira, que reina como o mais maldito entre os malditos da MPB – galeria que reúne Melodia, Macalé, Walter Franco, Barnabé, Itamar, entre outros: Sérgio Sampaio.

Este ano, completaram-se 15 anos da morte do cantor e compositor capixaba, que, curiosamente, tinha um sonho e morreu sem realizá-lo: ter uma de suas músicas gravadas pelo outro rei e seu conterrâneo, Roberto Carlos.

Para não deixar a data passar em branco, Jards Macalé, Luiz Melodia, Márcia Castro e Zeca Baleiro fizeram um show no SESC Pompéia, em São Paulo, no início de julho. Juntos, cantaram para uma plateia que reuniu muita gente que tinha menos de 10 anos quando o cantor faleceu, em 15 de maio de 1994.

Ali uma coisa ficou clara: apesar da curta carreira e de ter emplacado um único hit, Eu quero é botar meu bloco na rua, o interesse de jovens e novas bandas pela obra de Sérgio só cresce, incentivados pelos sites e blogs dedicados ao cantor, bandas reproduzindo seu repertório ou graças a fãs como Zeca Baleiro, que lançou pelo seu selo, o Saravá Discos, em 2006, o disco póstumo de Sérgio, Cruel, e já tem outro projeto na manga: relançar o último disco do capixaba, Sinceramente, de 1982.

“Já está pronto e até o próximo mês (outubro) estaremos lançando pelo meu selo. Falta só fazer uns acertos com a família e a editora do Sampaio”, adianta Baleiro ao Palco Alternativo.

Ligados por linhas tortas

Zeca conheceu Sérgio em 1989, durante um show no Rio de Janeiro. “A gente tomou umas cervejas e, na época, eu e mais quatro amigos estávamos editando uma revista cultural lá no Maranhão que se chamaria ‘Umdegrau’”, contou ele na apresentação do Sesc.

“A gente queria um entrevistado, um nome nacional. Fiz o convite e ele topou. Mandamos as perguntas e ele levou tanto tempo para responder que, quando ele mandou as respostas, a revista já tinha saído”.

Além das respostas, no fim da fita com a entrevista Sérgio gravou uma música, uma amostra do que ele estava fazendo. A canção era Maiúsculo, última faixa do disco Cruel, relançado anos depois pelo mesmo Baleiro. Era o destino escrevendo por linhas tortas.

Novas bandas levam o repertório sampaiófilo adiante

Uma banda assumidamente influenciada por Sampaio é a Cérebro Eletrônico. Tatá Aeroplano, vocalista da banda, já revelou em entrevistas que é sua forma de compor e cantar é intensamente influenciada por Sampaio.

No disco Pareço Moderno, o grupo gravou uma música em homenagem ao capixaba, Sérgio Sampaio volta, e na faixa que dá nome ao disco, fez nova homenagem a ele no verso: “Sérgio Sampaio vai chegar pra lhe dizer que eu pareço moderno”.

Outras bandas seguem espalhando o repertório de Sérgio como a Boato, Tangos e Outras Delícias, enquanto João Moraes, documentarista e primo do cantor, promove algumas jornadas sampaiófilas pelo Espírito Santo.

” Trata-se de uma galera que nunca viu Sérgio vivo, que nunca o tinha ouvido antes, mas já forma várias comunidades, páginas no MySpace. Para eles, é uma descoberta”, disse ele em entrevista recente ao Estado de S.Paulo.

“Acho que há uma curiosidade grande dos jovens de hoje a respeito da música do Sérgio, em parte provocada pela sua biografia peculiar, sua trajetória errática, seu mito de maldição. Para além disso tudo, o cara foi um grande músico e poeta, e gravações recentes de suas canções têm trazido seu nome à tona outra vez”, diz Baleiro ao Palco Alternativo.

Para se ter ideia de como Sérgio anda em alta, passados 15 anos de sua morte, ele virou até tema de livro. Além da biografia “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”, de Rodrigo Moreira, de 2008, a poética de suas letras e textos foi base para o livro “Eu Sou Aquele que Disse – Estudos e Impressões Sobre a Obra e Vida de Sérgio Sampaio”, publicado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

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parceria de Raul Seixas e Sérgio Sampaio

Revirando o baú

Sem contar compactos e participações nos discos de outros artistas, Sérgio Sampaio lançou 3 discos solo (LPs), mas sucesso mesmo obteve apenas com o primeiro, Quero Botar meu Bloco na Rua, de 1973.

Parceiro de Raul Seixas no disco A Sociedade da Grã-Ordem Cavernista Apresenta: Sessão das Dez (1971), foi Raul quem abriu as portas para Sérgio na Phillips, gravadora pela qual lançou o disco depois de, no ano anterior,  vencer o Festival Internacional da Canção com Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua.

“Fiz a canção num momento de angústia bastante grande, eu sozinho comigo cantando, e sentia que ela tinha um poder. Depois, mostrei para Raul e ele mesmo disse: ‘Pomba, é isso aí, dá pé, esse negócio aí é legal’”.

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Regravado por nomes como Erasmo Carlos, Maria Bethânia, Luiz Melodia, Sérgio Natureza, Zeca Baleiro, Chico César, Lenine e João Bosco, Sérgio não virou nome de rua, de avenida, de escola, de praça, mas sua música está por aí, na rua, nas praças de Cachoeiro, chegando aos dispostos a ouvir.

Como o próprio cantava: “Um livro de poesia na gaveta, não adianta nada. Lugar de poesia é na calçada”… O mesmo serve para a música.

Para baixar o repertório sampaiófilo, clique aqui.

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