Recife Lo-fi: em coletânea, Zeca Viana reúne variedade de sons e influências, unidas pelo sotaque

Foto: Bruna Rafaella / Divulgação Recife Lo-fi

[por Andréia Martins]

Zeca Viana é o que a gente pode chamar de um multiman. Baterista do Volver, tem projetos paralelos com outras bandas, projeto solo, estuda filosofia, é blogueiro e videomaker, canta, compõe, além de também tocar guitarra.

No meio desse turbilhão de atividades e ideias, Zeca arrumou um tempinho para organizar uma coletânea com o que há de melhor na nova safra da música de Recife: a Recife Lo-Fi, uma compilação gravada de um jeito bem caseiro e que tem como objetivo maior divulgar essas novas bandas, 21 ao todo. Entre elas, alguns artistas já bem conhecidos como Lulina e a banda Julia Says.

A variedade de sons e influências, unidas pelo sotaque e pela geografia, apresentam uma cena rica em diversidade, nem tão relacionada assim ao movimento Mangue Beat, o que às vezes parece sempre ser uma obrigação de artistas das bandas de lá.

O Palco Alternativo bateu um papo com Zeca, por e-mail, para saber um pouco mais sobre esse projeto, que em breve terá o seu volume 2. Puxe sua cadeira e confira!

Palco Alternativo – Quanto tempo você levou para garimpar novos sons para a coletânea? Fale um pouco de quando surgiu a ideia e do que você considerou ao escolher cada uma das 21 bandas.
Zeca Viana – Na verdade escuto muitas bandas recifenses pelo próprio convívio com os amigos, etc. Eu sempre pensei em fazer algo nesse sentido, de juntar essas bandas/artistas, um forma de divulgar essa produção. Então a ideia foi se formando na temporada que passei em São Paulo. Fui convidando bandas, preparando todo o material. Chegando em Recife, recebi apoio do Recife Rock, do Coquetel Molotov, da Revista O Grito e a Agência Alavanca, de São Paulo, além da TramaVirtual (que lançou a coletânea nacionalmente) que indicaram algumas bandas. No fim das contas, tivemos uma grande reunião entre amigos.

Quando se fala em Recife, especialmente sobre música, é quase impossível não ter como referência a música de Chico Sciene, o manguebeat. Como ouvinte e realizador, no que essa geração de bandas que você reuniu tem em comum ou o que mais a difere do manguebeat?
ZV – Acho que o Manifesto Mangue é antes de tudo uma ideia. Temos que respeitar isso e pensar dessa forma. Muitas vezes a leitura do Manifesto Mangue é mal feita, principalmente no sentido de exclusão: ou você tem um tambor na banda ou não é de Recife. A mídia em geral e os poderes públicos trabalharam muito com essa lógica. Por exemplo, a Stela Campos estava no olho dos acontecimentos, tinha ligação direta com Chico Science, cantava em inglês e não tinha tambor de maracatu na sua banda. Ela era do movimento MangueBeat? O que temos que entender é essa abertura para várias possibilidades que o manifesto visava. A ideia é antes inclusiva, de abertura do cenário para qualquer atividade artística.

O que vejo hoje é o que sempre vi acontecer em Recife: muitas bandas circulando, dialogando artisticamente com a cidade. Como eu disse, o manifesto foi muito mal lido pela mídia e pelos poderes públicos que trabalharam por muito tempo com uma lógica de “quase aversão ao que não é regional”. Hoje a coisa está mudando. Algumas bandas que cantam em inglês praticamente não entravam em editais, os concursos de música julgavam valores como “originalidade” de forma equivocada, etc. Chico Science usava um termo em inglês no seu nome, muita gente não entendeu o que isso queria dizer.

Qual é a Recife que vamos conhecer ouvindo essa coletêanea?
ZV – É o Recife gravado em casa. É um convite para que todos possam conhecer mais de perto essas produções, entrar nesses home studios e participar, puxar uma cadeira e conversar sobre música. Pensamos em abrir espaço para mostrar algumas produções praticamente inéditas e ainda artistas já conhecidos como Lulina, por exemplo. Não queremos restringir essa coletânea a “bandas lo-fi”, na verdade é uma coletânea de “músicas gravadas de forma lo-fi”, o que abre possibilidade para todos participarem. É um motivo para festejarmos e fazer o que gostamos, ouvir e falar sobre música.

Há alguma pretensão em levar esse projeto virtual para a estrada, em algo como um festival “Recife Lo-fi”?
ZV – Realizamos a Festa Recife Lo-fi no dia 5 de fevereiro em Recife, num lugar muito bacana chamado Quintal do Lima que abraçou a ideia. Todos da coletânea estavam presentes, tivemos shows com artistas da coletânea, discotecagem (com várias faixas da coletânea também), foi uma grande festa. Boas conversar, trocas de experiências, parcerias, tudo está acontecendo de uma forma bacana. Ficamos animados, a festa foi um sucesso, um público muito interessante compareceu, provavelmente faremos outras festas Recife Lo-Fi.

Das bandas participantes, você poderia citar umas três que, você acredita, vão dar o que falar antes do que esperam?
ZV – Gosto muito do trabalho de D Mingus, Jalu Maranhão, Matheus Mota, Lina Jamir, Allen Jerônimo, é difícil falar, tem muita gente bacana.

Tanta gente jovem reunida, diversas músicas pra lá e pra cá, alguma história curiosa ou engraçada durante a produção dessa coletânea, ou algo que tenha ocorrido com as bandas em suas gravações caseiras?
ZV- Na verdade foi engraçado quando a gente foi tirar as fotos de divulgação com todos juntos. É um batalhão de músicos, é difícil juntar tanta gente, coordenar. Fizemos a foto no centro do Recife, na Praça do Derby. Quando cheguei lá levei um susto, é muita gente! Sabe aqueles megafones? Pronto, acho que da próxima vez vou levar um desses. Mas a foto ficou ótima, minha companheira, a artista plástica Bruna Rafaella fez um bom trabalho fotográfico e de arte da coletânea. Acho que fizemos todos um bom trabalho de equipe.

Você é baterista do Volver, tem projetos paralelos com outras bandas, projeto solo, estuda filosofia, é blogueiro e videomaker, canta, compõe além de também tocar guitarra e agora ser uma espécie de “mecenas” da música de Recife. O que mais cabe no pacote de habilidades de Zeca Viana?
ZV – Não sei, vou fazendo aquilo que sinto necessidade, tento me expressar. Apesar de fazer música com a Volver e meu projeto solo gosto de trabalhar com vídeo, fotografia, pintura, gosto de desenhar também. Penso muito em desenvolver um trabalho em artes plásticas, quem sabe. Provavelmente farei algo nesse sentido. Gosto como se dão as relações artisticas nas obras de arte, é algo que me atrai. Dá pra trabalhar com vídeo e audio, música e desenho. Gosto dessas possibilidades.

Como vai ser o 2010 do Volver?
ZV – Estamos preparando o primeiro DVD da Volver gravado no lançamento do Acima da Chuva no Teatro de Santa Isabel. Foi lindo o show, com teatro lotado, todos cantando, muito bonito. Esperamos gravar o nosso terceiro disco ainda esse ano também.

E seus próximos projetos?

ZV – No meu projeto solo fiquei muito feliz com a eleição do meu primeiro disco solo, Seres Invisíveis, como o 3º Melhor Disco Nacional de 2009 pelo TramaVirtual, estou experimentando diferentes formatos, fiz alguns shows com o Conjunto Imaginário com uma pegada mais rock, fiz um EP chamado Trilha Sonora com temas instrumentais para um curta metragem de Leonardo Lacca, estou experimentando. Pretendo gravar meu segundo disco ainda esse ano e, no mais, ouvir bastante música, fazer muitos amigos e trabalhar bastante.

Para ouvir, baixar e compartilhar a coletânea Recife Lo-fi:

http://www.recifelofi.blogspot.com (blog oficial do projeto)

http://www.reciferock.com.br

http://www.tramavirtual.com.br

Para ouvir os sons de Zeca: http://www.myspace.com/zecaviana

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