“O rock é um patrimônio”

O quadrinista Hervé Bourhis, autor do “Pequeno livro do rock”, esteve no Brasil para um bate-papo sobre HQs, rock e sobre seu próximo lançamento, “O Pequeno livro dos Beatles”

O francês Hervé Bourhis em evento em São Paulo

[por Andréia Martins]

Hervé Bourhis é antes de tudo um fã de rock. No entato, em vez de segurar uma guitarra e criar riffs frenéticos ou tornar-se um band leader, Bourhis preferiu levar os ídolos e histórias preferidas do gênero para as suas tiras. Foi daí que nasceu o “Pequeno livro do rock”, lançado em 2009, um verdadeiro tour de france pela história do rock.

Bourhis esteve no Brasil no último final de semana para participar de um evento na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, em São Paulo. Ele falou sobre rock, preferências, do primeiro livro e do próximo, que chega ao Brasil em dezembro: “O Pequeno livro dos Beatles”, também em HQ.

“O Pequeno Livro do Rock e o dos Beatles são livros primos, mas com pequenas diferenças. O primeiro é mais subjetivo, faz um caleidoscópio do rock. Já o dos Beatles é um livro mais biográfico, mais jornalístico e histórico”, disse Bourhis.

“A ideia era que nenhum especialista em Beatles achasse um defeito, mas isso é impossível”, comentou ele.

O livro começa nos anos 60 a vai até hoje, contando a história das carreiras-solo de cada Beatle, o que não se vê muito por. “A maioria dos fãs naõ gosta, considera esse lado fraco na história do quarteto inglês”, diz o quadrinista.

Questionado por Edgar Scandurra, mediador do bate-papo, sobre qual era o seu Beatle preferido, Hervé levou alguns segundos até dizer Paul McCartney.

“Eu diria Paul, por várias razões, sobretudo porque a maioria elege a Lennon como o maior Beatle. Ele era o gênio criativo, mas não o mais trabalhador. Sem Paul não teríamos discos como Sgt.Peppers e Revolver”.

Sobre o livro do rock

Hervé contou que para preencher as centenas de páginas do “Pequeno Livro do Rock”  revirou tudo o que havia juntado desde a adolescência sobre rock.

“Comecei a guardar coisas desde os 14 anos, a comprar muitas revistas de rock, livros e discos. Entre os meus 14 e 18 anos, passava noites fazendo listas, ligações cronológicas, mas por prazer, só pra fazer alguma coisa”, contou ele. “Anos mais tarde, quando me transformei em um autor de quadrinhos, vi que era um desperdício não usar aquele material”.

O livro é um caleidoscópio do rock. Hervé levou um ano (re)organizando seus arquivos e mais um ano e meio desenhando as tiras.

Talvez o grande diferencial do francês seja o espaço dado à música francesa. Outro autor dificilmente colocaria tanto da música francesa no livro, a não ser um nativo. Lá estão fatos bem legais de nomes como Serge Gainsbourg, Brigitte Fontaine, Mano Negra (banda de Manu Chao), Françoise Hardy, até o Daft Punk.

“É como John Lennon dizia: o rock francês é como o vinho inglês”, comentou Bourhis ao falar do pouco destaque dado ao rock francês. “Não temos a cultura do barulho, é algo mais literário”, completou.

Mas independente disso, não dá para deixar de lado obras de nomes com Gainsbourg, nas palavras do quadrinista, “o artista francês cuja música é mais internacional, com 30 anos de carreira impecável, o que é raro”.

Na França, o livro sobre o rock não foi recebido com muitos bons olhos. Segundo Hervé, há uma resistência dos franceses em entender porque ele colocou em um livro sobre o rock, momentos e histórias do reggae, do rap e do hip hop.

“Eu vejo isso como uma forma de preconceito”, disse ele no bate papo, ao explicar que ao fazer um livro sobre o rock, quis “que a história tivesse uma coerência de ritmos”, ou seja, que o leitor pudesse entender de onde vieram os gêneros.

Hervé deixou muito claro que para ele, rock não significa uma banda na formação clássica voz-guitarra-baixo-bateria, vai além. Talvez para o francês, o rock esteja muito mais ligado à atitude do que à música.

Bourhis desenha o vocalista do U2, Bono, em versão anos 90, em livro

“Por que o Eminem está no livro?”, perguntou alguém da plateia. “O Eminem está no livro pela atitude rock. Se ele tivesse 20 anos nos anos 50 estaria fazendo rock”, disse o desenhista. Para ele, o hip hop assumiu o lugar de música de protesto, de reinvindicação.

Bourhis diz que o rock atual  “está com uma cara de burguês, fica dando voltas”. Nesse sentido, revirar o baú de coleções adolescentes e nos entregar um livro com momentos clássicos, engraçados e importantes do rock, talvez seja a forma de Hervé preservar a memória dos grandes heróis do rock e de seus momentos memoráveis. “O rock é um patrimônio”, disse ele.

Ao final do bate-papo, Hervé, como um bom fã de música, soube como agradar os que levaram a sua pequena bíblia do rock para ser autografada: desenhou o artista preferido de cada leitor na contracapa do livro [foto acima]. Touché!

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