São sons: a babel musical dos Ruiz

Novo trabalho da dupla Téo e Estrela passeia por diversos ritmos e celebra a parceria

Teo Ruiz e Estrela Leminski


[por Andréia Martins]
Música é arte coletiva. É para conectar, dividir, fazer junto, ouvir junto. É esse espírito coletivo da música que o novo trabalho da dupla – no estúdio e em casa – Téo Ruiz e Estrela Leminski, São Sons, reflete.
Neste que é o segundo trabalho dos sois, eles abrem o leque de referências musicais. O disco não traz uma uniformidade, nesse caso, talvez propositalmente – varia nos estilos, temas e timbres, que refletem bem a diversidade da música popular brasileira. Estão no disco nomes como Rubi, Kleber Albuquerque, Na Ozzetti, Anelis Assumpção, Ceumar, Carlos Careqa, entre outros.
“A intenção do disco é justamente representar a parceria. Nós sempre falamos em ‘promiscuidade musical’ e acho isso uma coisa super saudável. Você poder trocar experiências, fazer uma parceria em uma viagem, ou mandar uma letra pra alguém ou musicar uma letra de outro artista. Enfim, são trocas que, ao meu ver, só trazem benefícios”, diz a dupla em entrevista ao Palco Alternativo.
O disco mostra essa “multipersonalidade” não apenas nos intérpretes convidados, mas também na variedade de instrumentos usados para fazer o disco, em busca de “uma sonoridade bem diversificada, voltada para a poesia, com o objetivo de traduzir as letras também no arranjo e no ‘som’ final do disco. Podemos dizer que foi uma busca por uma sonoridade poética”, diz a dupla.
Entre as poesias espalhadas pelas 15 faixas do disco, há espaço também para protestos bem-humorados. É o caso da música que abre o disco, “Quirera”, que já começa dando um recado: “Se vocês querem essa quirera de música de sucesso / Espera, mas espera sentado contemplando o retrocesso / Pudera, quem pensa em lucro e grana, pensa em gana, drama e fama / Pondera, ser artista ao é empenho?”. No refrão, um pedido sincero: “Compra o nosso disco pra banda decolar / Coloca na novela pra ver no que vai dar”.
Quem assume os vocais da música é Anelis Assumpção. No comentário no encarte, Estrela diz que “Quirera” é sua “canção de protesto pessoal”. “Estávamos viajando e fazendo shows e eu não estava mais inspirada para nada, aborrecida com todas as dificuldades que todos os músicos passam. Voilá estava aí a inspiração”, comenta ela.
“Ela virou nosso abre-alas justamente por representar nossa vivência no mercado da música em poucos minutos”, diz Teo.
A dupla se esquiva de classificar o disco como “maduro”. Talvez seja apenas mais uma etapa da criação dos Ruiz. Mais uma possibilidade encontrada entre tantas.
“É um tanto clichê dizer que é um trabalho mais maduro, até porque a gente sempre quer fazer melhor, o amadurecimento não é um fim, mas uma ação. Nesse tempo eu vi muita gente bacana surgir, mas também vi compositores jogarem letras supérfulas no meio de melodias belas, ou ainda letras complexas, mas que ninguém tem vontade de cantar, que funcionam mais no encarte. Isso tudo é uma questão de opção, e nesse disco queríamos canções em que a letra invadisse tudo: o arranjo, o instrumental, mas que não perdesse o entoativo”, diz.
“Desde a escolha do repertório já tínhamos uma salada de ritmos e gêneros musicais também, pois nossas composições são assim. E justamente as letras foram a base e o fio condutor do trabalho, através da poesia. Muitas, inclusive, são poemas musicados, que conseguem transitar bem entre o poema papel e a letra de uma canção”, completa Téo.
Aliás, essa mistura de poesias e textos musicados é uma das influências literárias que Estrela traz para o trabalho. Filha de Paulo Leminski e de Alice Ruiz, é inevitável negar a referência, seja literária ou musical, passada de pais para filha.
“Cresci vendo os meus pais transitando entre o meio literário e musical, e apesar de não terem se assumido como músicos os dois sempre compuseram. Uma coisa determinante na minha criação foi a paixão pela linguagem, que foi algo importante pra mim, desde sempre.  Ela se reflete nas minhas letras e na minha poesia”, diz Estrela.]
“No fundo é uma influência dupla: interna e externa. É interna pela vivência pessoal e externa porque toda uma geração que eu admiro de escritores e letristas é influenciada pelos meus pais”, completa.

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