O som do silêncio

Festas silenciosas têm feito a cabeça dos brasileiros e ganhado espaço em território nacional

[Por Natasha Ramos]

Funciona assim: todo mundo de fone de ouvido sem fio, cada fone pode ser sintonizado em três canais, cada canal tem discotecagem de um DJ, cada DJ toca um estilo diferente, simultaneamente, numa mesma pista de dança. Essa é a fórmula das chamadas “festas silenciosas”, febre na Europa, e que viraram tendência mundial principalmente pelo projeto Silent Disco, criado no início dos anos 2000 pelo holandês Nico Okkerse.

A Silent Disco ganhou fama em 2005 no festival inglês Glastonbury e dali se alastrou pelo mundo. Chegou a terras tupiniquins, em 2008, na Virada Cultural, com festa em frente ao mosteiro São Bento, onde foram distribuídos fones de ouvido wireless para o público dançar ao som da discotecagem do próprio Okkerse.

Adriana Lima (artista plástica e dona da boate Dama de Ferro, no Rio de Janeiro) conheceu esse estilo de festa em setembro de 2009, no festival Elletric Picnic, na Irlanda. Achou a ideia inovadora, adquiriu o equipamento por lá mesmo e importou o conceito da festa para o Brasil. Em 2010, criou o projeto Shh!! Silent Club que, além dela, conta como sócios os empresários irlandeses Conor Brady e Alex Brennan, e fornece o equipamento necessário para as casas que desejam realizar esse estilo de festa.

“Começamos com esse projeto no meu clube, o Dama de Ferro, no Rio de Janeiro. Depois fomos buscando parceiros para realizar a festa em outros lugares”, explica Adriana.

Além de Rio de Janeiro, o projeto acontece em Porto Alegre, no clube Cabaret; em Recife, no RAWR; em Curitiba, no Wonka Bar; em Fortaleza, no Meet Club; em Florianópolis, na 1007 Boite Chik… E a ideia é, gradativamente, levar o projeto para outras cidades brasileiras. Já foi realizado até ao ar livre, na praia Vermelha, Rio de Janeiro.

Em São Paulo e Campinas, a casa a realizar esse tipo de festa é a Sonique, a primeira parceira a abraçar o projeto, em 2010. De lá para cá, foram mais de 20 edições, uma média de uma festa por mês.

A casa disponibiliza cerca de 350 fones de ouvido Bluetooth para quem quiser curtir o som comandado pelo DJ residente Click e convidados que se revezam nos três canais, transmitidos ao mesmo tempo. “Não crio setlist com antecedência. O esquema é ter bastante música no computador e ir sentindo a vibe da festa, para tocar o que o público está a fim de ouvir”, comenta Click.

DJ Click, residente da festa Shh! Club Silêncio no Sonique. Crédito: Andres Costa

A princípio, a festa pode causar certo estranhamento, mas é só colocar os fones que tudo faz sentido. “É hilária a cena. Fica cada grupo cantando um gênero diferente, um canta The Killers, outro, Lady Gaga, e um terceiro Mamonas Assassinas. Por ter três gêneros musicais bem diferentes, acaba atraindo um público variado”, conta Click.

Quem está de fora pode achar que o uso dos fones propicia um comportamento introspectivo, mas, na prática, acontece o contrário. O uso dos fones de ouvido gera uma interatividade muitas vezes maior do que em baladas com som ambiente, pois as pessoas têm curiosidade de saber o que o outro está ouvindo.

“A festa silenciosa é uma das mais animadas que realizamos. O legal dela é a interatividade e o viés participativo que a possibilidade de escolha dos três canais de música propicia”, explica Beto Lago, sócio da Sonique.

Beto Lago, sócio do clube Sonique. Crédito: Andres Costa

O segredo do sucesso dessas baladas, segundo Beto, é tocar músicas conhecidas que o público saiba cantar junto. “Geralmente, são sons de pop, rock e nacional. Sempre com vocal, pois a graça é cantar como se estivesse no chuveiro.”

Veja a programação das festas no site: www.shhclubsilencio.com

*Publicado originalmente por Natasha Ramos  na revista Almanaque Saraiva.

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