Vitrola Sintética: uma das apostas do Palco para 2016

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Terceiro disco da banda recebe elogios e leva o grupo à indicações no Grammy Latino

[Por Natasha Ramos]

O ano de 2015 foi especial para a Vitrola Sintética, banda formada por Felipe Antunes (voz e guitarra), Otávio Carvalho (baixo e programações) e Rodrigo Fuji (guitarra e piano). Em junho, o grupo paulista lançou seu terceiro disco, “Sintético”, e saiu em turnê pela Espanha e Portugal —antes deste, a banda havia lançado Expassos (2012) e o disco de estréia, intitulado Notícias (2009). Em setembro, veio a feliz notícia de que o grupo foi indicado a duas categorias do Grammy Latino: Melhor Artista Revelação e Melhor Engenharia de Gravação. A cerimônia ocorreu em novembro, em Las Vegas, e durante a viagem pelos EUA, a banda fez shows em Los Angeles, San Diego, Big Bear, além, é claro de Las Vegas.

“Sintético” tem 11 canções inéditas e foi gravado entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015 no estúdio Submarino Fantástico, em São Paulo, e contou com mixagem de Otávio Carvalho e masterização de Felipe Tichauer.
O álbum traz diversas participações especiais: Maurício Pereira (voz e saxofone em “Minha Garota”), Bárbara Eugênia (voz em “Inconsciente Inconsistente”), Gustavo Ruiz (guitarra e violão em “Minha Garota”), Gui Calzavara (trompete em “Duvido Não Depois”), Pedro Mibielli (cordas em “Faz um Tempo”, “Beijo de Rimbaud”, “Mergulhar” e “Inconsciente Inconsistente”), Fê Stok (slide em “Deus Te Ouça”), e André Molinero (teclado em “Beijo de Rimbaud” e “Duvido Não Depois”).

A maioria das composições tem natureza rock – como nos outros trabalhos da banda — mas a sonoridade do grupo se expande com o uso de pianos, cordas e programações, fazendo a banda alcançar um sotaque próprio dentro do atual cenário da música brasileira. Os caras vão do imediatismo de um rock direto de 2 minutos (“Etéreo”) ao requinte intimista de “Duvido Não Depois”, em convivência harmônica de timbres sintéticos e acústicos.

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O Palco Alternativo foi atrás do vocalista e guitarrista, Felipe Antunes, para saber mais sobre a trajetória e sonoridade da banda, a nomeação ao Grammy Latino, e os planos para 2016. Confira!

Palco Alternativo: Como vocês se conheceram e por que resolveram montar a banda?
Felipe Antunes: Conheci o Rodrigo Fuji no cursinho, em 2001. Na época eu tocava pouco, ele já era músico, dava aulas de teclado e etc. Eu comecei a compor uns anos depois, daí mostrei algumas dessas canções pro Juninho Martorano e pro Fabio Vilches, que tinham uma banda de covers em Bragança Paulista. Das minhas participações nos shows deles, surgiu a ideia de montarmos a “oito milímetros”. Depois disso, Leandro Beraldo – então membro da banda – nos apresentou Otávio Carvalho (seu primo), fizemos uma jam juntos e o chamamos pra banda… Nessa época, começávamos a migrar pro Vitrola Sintética. Marcos Alma também fazia parte da banda nessa época. Chamamos então o Rodrigo pra gravar o primeiro disco. A formação fechou com Otávio Carvalho, Rodrigo Fuji, Marcos Alma e eu (gravamos assim o álbum “Notícias”). Depois desse primeiro disco, o Marcos saiu e nós três seguimos (o Rodrigo, que a princípio tinha sido chamado só pra gravar as baterias do primeiro álbum, voltou pra gravar o segundo na guitarra e não saiu mais).

Palco Alternativo: Houve uma mudança de sonoridade do mais recente trabalho em relação aos outros discos. Essa “evolução”, se podemos chamar assim, foi proposital ou natural?
F.A.: Sentimos que foi natural. Porque esse disco foi gravado com tempo, durante um ano todo, enquanto ainda fazíamos a turnê do “Expassos” (segundo disco da banda). Tivemos uma imersão no estúdio de uma semana no começo de 2014, depois fomos gravando de um jeito espaçado, nas calmas que o estúdio ia permitindo. Mas claro que podemos também chamar de propósito conseguir gravar um disco com tempo e possibilidades. Nesse sentido foi proposital. Acho então que nesse caso o proposital pode ser chamado de natural.

Palco Alternativo: Como foi a experiência de ser indicado a duas categorias no Grammy Latino?
F.A.: A gente, de fato, pode chamar de “experiência”! Foi tudo uma grande experiência: a indicação, o evento, a viagem, muita coisa foi possível com isso, inclusive o nosso fortalecimento enquanto banda, amigos, etc. Nunca se espera que uma banda independente como a nossa vá ser escolhida pra disputar um prêmio dessa importância. Mas, como disse o Felipe Tichauer (responsável pela masterização do “Sintético”), o que parecia impensável anos atrás hoje se mostra como possibilidade e perspectiva para médio e longo prazo. Acima de tudo nos sentimos legitimados e legitimando uma geração que – aos olhos da grande mídia – fica escondida pela força do mercado. Mas, se pudermos ter voz pra alguma coisa – pelo benefício da indicação -, que seja pra fortalecermos os olhares à verdadeira arte brasileira – pois ela está muito viva! Tem muita gente boa! Precisamos é criar e ampliar mecanismos pra essa sobrevivência.

Palco Alternativo: As músicas do Sintético combinam melodias delicadas a uma sonoridade experimental. Quais as inspirações para compor as músicas deste último álbum? Como é esse processo? Quem compõe as letras?
F.A.: Escrevi a maior parte das letras, mas tem parcerias também, como em “Minha garota” – com Meno Del Picchia – e “Não vai mudar” – nossa (Otávio, Rodrigo e eu) com Enzo Banzo (Porcas Borboletas); “Mergulhar” tem música e letra de Otávio. Costumo perceber que as inspirações estão nas relações entre pessoas. Na vida que se leva – e a profundidade varia com o quão intenso se leva! Eu vejo a arte como escolha de vida, não de profissão. Acho que tem a ver com como se enxerga a natureza, os pensamentos, a ciência que envolve tudo isso, a ética das ações, a simplicidade nos pertencimentos e permanecimentos. Então acredito que a inspiração vem de todo lado. De uma peça de teatro, da literatura, de um filme, de um espetáculo de dança, da própria música, da portaria do prédio, do transito, do sítio, das crenças, etc.

Palco Alternativo: Em algumas músicas senti um quê de Grizzly Bear (“Mergulhar”), de Little Joy (“Minha Garota”) e em outras de Los Hermanos. São influências? Se não, quais bandas/artistas são influências?
F.A.: Interessantes referências que você traz. São referências sim, pela significância que têm. Mas acredito que mais indiretas do que diretas. Fomos muito influenciados pela própria cena independente que pertencemos, como Tata Aeroplano, Maurício Pereira, Meno Del Picchia, Zabomba, Kika, Helio Flanders, Porcas Borboletas, Maglore, Juliano Gauche, Gustavo Galo, etc. E só pra citar alguns clássicos como exemplo, estamos sempre muito interessados pelas obras de Serge Gainsbourg, Louis-Jean Cormier, Vinicius de Moraes, Sergio Sampaio, Dirty Projectors, Erasmo Carlos, etc.

Palco Alternativo: O disco Sintético recebeu vários elogios de crítica especializada. Como foi para vocês essa (boa) recepção?
F.A.: Pra nós são bonitas doses de confiança. Da boa confiança. Temos tranquilidade no que fazemos; segurança também. Mas é sempre bom ler ou escutar de quem nos interessa a opinião que esse trabalho pertence aos mais interessantes de um ano que considero tão rico musicalmente. Grandes álbuns foram lançados em 2015. Sermos citados uma boa quantidade de vezes – como você bem lembra – por pessoas e veículos importantes, e de um jeito tão positivo, é um grande privilégio.

Palco Alternativo: Quais os planos para 2016?
F.A.: O ano de 2015 foi extremamente confuso; sobretudo pro Brasil e especificamente na política. Um ano difícil. Mas não podemos negar que foi muito generoso com o Vitrola. Coisas muito bonitas aconteceram. E não falo só pelo Grammy, mas também pelo apoio do público nos ajudando com o financiamento coletivo do álbum, de parcerias que criamos, da contribuição que pudemos dar nas ocupações das escolas e etc. Este 2015 abriu e montou possibilidades para um 2016 de mais trabalhos e projetos. Uma das coisas que posso adiantar é que lançaremos duas músicas que não estão no “Sintético”, em formato Vinil 07”. Esse “Sintético B” ainda não tem data certa, mas é uma das coisas já preparadas pro ano que vem.

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Caso você não conheça o Vitrola Sintética, nada melhor do que ter um primeiro contato com o som dos caras ao vivo. A banda irá se apresentar em São Paulo na Casa do Mancha, na próxima sexta-feira (22),  junto com Meno Del Picchia, que participou do disco “Sintético”.

Show Vitrola Sintética e Meno del Picchia

Quando: 22 de janeiro, sexta-feira, às 21h
Onde: Casa do Mancha (Rua Filipe de Alcaçova, S/N – São Paulo/SP)
Quanto: R$ 20,00 (à venda apenas na porta do local)

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