Banda Judas traz visceralidade caipira em álbum de rock com toques melancólicos

Grupo lançou “Os Desencantos”, disco que foge de limitações e definições

Foto: Thaís Mallon

Por Lucas Lima

Na história da música mundial e, em particular, da brasileira, o rock sempre agregou aos seus elementos básicos (o cru da guitarra, baixo, bateria) características de outros ritmos, desde a dance music, o jazz até a música caipira, que é o que vamos falar aqui. No Brasil, a música caipira tem sido banalizada nos últimos anos, em específico pelo sucesso do sertanejo universitário. A banda Judas, formada por Adalberto Rabelo Filho (voz) Carlos Beleza (guitarra), Hélio Miranda (bateria), Bruno Prieto (baixo) e Pedro Vaz (viola caipira) mostra e relembra que não tem porque abster-se de um estilo que é muito mais profundo do que o fast-food mercadológico e explora os ritmos do sertão no álbum Os Desencantos.

Encabeçado por Adalberto, compositor de artistas como Jards Macalé, Wado, Maria Alcina e Vespas Mandarinas, o grupo traz neste registro faixas viscerais no sentido da sonoridade, onde não existem muitos espaços para silêncios (há sempre intensas percussões, por vezes espessas camadas de baixo e solos de guitarra, em primeiro ou segundo plano) e construção lírica bem trabalhada, por vezes apontada para um discurso crítico, por outras existencial e melancólico.

O disco ainda tem vocalizações e corais, que, embora não construam atmosferas épicas e psicodélicas, podemos comparar com o que Zé Ramalho fazia nos anos 70 em faixas como “A Dança das Borboletas” e “Vila do Sossego”.

Os Desencantos, inclusive, começa com a psicodélica “Casa de Tolerância No.1”, passa pela balada “Oroboro” (que tem o forte refrão “Ah Que Não Seja Meu/o Mundo Que O Amor Morreu”) e chega na envolvente “Cada Cidade, Um Porto”, que tem participação de Maria Sabina e Guilherme Cobelo, que emprestam suas vozes para o coral. Provavelmente esta é a faixa com o jogo de palavras mais interessante do registro, além de canção com grande intensidade de sonoridade e vocais. Em síntese, é a pedrada do álbum.

Já que falamos em coro, temos também intervenção de vozes em “Os Novos Malditos”; nela, temos as participações de Maria Sabina, Stievenson Canavarro (Almirante Shiva), Tarso Jones (Joe Silhueta), Gaivota Naves (Joe Silhueta), Litieh, Emília Monteiro, Júlia Carvalho (Talo de Mamona), Thuyan Santiago (Toro), Pedro Lacerda (Galopardo) e Estephanie Cavalcante.

Se antes destacamos sobre os ritmos do sertão brasileiro, podemos citar que “Rio das Almas” traz mais do country norte-americano do que propriamente ritmos nacionais, o que não é uma crítica, já que a canção é também um dos pontos altos do álbum. Em suma, se antes citamos Zé Ramalho como referência, aqui podemos fazer um paralelo com bandas como The Jayhawks de “Blue”, lançada em 1995 no disco Tomorrow The Green Grass.

Em síntese, Os Desencantos é um ótimo exemplo que “limitar-se é definir-se”, não apenas por trazer nuances de música caipira para as canções, mas justamente por não ficar somente nisto. Este é um disco de rock, com um pé no forró, com pitadas de country e até mesmo interferência do funk brasileiro na crítica “Enfermaria No.6”. Provavelmente há outras influências e outros ritmos nas entrelinhas, mas como texto não é disco, ouça você mesmo no Spotify ou logo abaixo:

Judas, Os Desencantos

Lançamento: 2020
Selo: aardvark music 
Faixas: 
Casa de Tolerância nº1 
Oroboro 
Cada Cidade, Um Porto 
Os Novos Malditos 
Matadouro nº5
Enfermaria nº6 
Rio das Almas 
Um Moi de Vento
Ambissinistra 
Cisne Negro 

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