Entrevista: O espírito selvagem da Maglore

Novo álbum da banda traz esperança, melancolia e viagem no tempo

Foto: Azevedo Lobo

Era uma tarde cinzenta, com ensejos de chuva, quando, prestes a embarcar em um ensaio para a turnê do disco “V“, Teago Oliveira, vocalista da Maglore, banda proveniente de Salvador (BA), apareceu em nossa conversa online. Cinza, uma cor quase que sempre presente em nosso país (ou mesmo no mundo), combina também com os incertos sentimentos: um paralelo com a sensação de “será que vai chover?”, “hoje faz calor?”. Em São Paulo, ao menos ultimamente, vivemos tudo ao mesmo tempo e agora; em uma mesma tarde temos chuva, sol, calor e frio. 

Mesmo diante as incertezas de um mundo cinza, a Maglore diversifica suas cores com “V”, álbum que chegou recentemente às plataformas de streaming. “Este é um álbum praticamente feito em dois atos. A primeira metade soa mais esperançosa, com músicas mais para cima. Na segunda parte, o sentimento muda para um lado mais melancólico, reflexivo”, explica o vocalista Teago Oliveira. 

Lançado em um momento de extensos debates políticos, a Maglore não vê, no sentido  de um encurtamento de espaço para promoção do álbum, um problema. “Lançamos agora porque tínhamos que lançar. Este é um álbum que começamos a produzir antes mesmo da pandemia. Temos eleições, em seguida a Copa do Mundo, mas não vimos um porquê de não colocarmos esse trabalho nas ruas”. 

“V” é o quinto álbum de estúdio da banda, que sucede o “Todas As Bandeiras”, lançado há 5 anos. Formado por Teago Oliveira, Lelo Brandão, Felipe Dieder e Lucas Gonçalves, o grupo fez uma viagem no tempo e trouxe sonoridades dos anos 70 para o registro: um verdadeiro passeio pelo tropicalismo, rock inglês e o Clube da Esquina. Não por menos, os instrumentos e os equipamentos sonoros usados pela Maglore são todos antigos, o que eleva a aura “retrô” do álbum. Tudo isso embalado com retoques especiais de sopros e metais.

As músicas, que variam entre reflexões, externas e internas, passam pelo pop, o rock e a psicodelia e faz conexão com momentos atuais (que até parecem antigos) e viagens temporais. Em “Transicional”, Teago canta sobre o processo de transição, mudança, inspirado em vivências de Hunter Schafer, atriz que incorporou a personagem Jules na série Euphoria, da HBO Max. Já em “Espírito Selvagem”, Teago buscou na personalidade forte de um amigo as estrofes para a faixa que já é uma das queridinhas dos fãs. 

O baixista Lucas Gonçalves também é responsável pelas letras dentro do grupo. Entre os destaques de “Luquinhas”, temos “Maio de 68” e “Vira-Lata”, que parece até que saiu de um disco do Lô Borges. “Engraçado que, hoje em dia, falam bastante que é preciso ter uma estratégia de singles. Lançamos alguns antes do álbum e, só tivemos uma repercussão maior, com o lançamento do álbum. Estamos felizes com o resultado”, conta Teago. 

Teago como compositor

A Maglore chega ao quinto álbum de estúdio com o status de uma das bandas mais bem sucedidas do cenário independente nacional. E Teago Oliveira, claro, como um dos melhores compositores em atividade. Já teve suas letras ecoadas por vozes como Gal Costa, Erasmo Carlos e Pitty. “Tem vezes que eu acho que nem caiu a ficha. Fico feliz sobre o meu trabalho e feliz porque faço da música a minha vida. Eu componho música popular, no modo clássico. E é isso que sei fazer. Não busco pensar muito sobre onde eu cheguei porque não quero que suba a cabeça”, diz Teago. 

Com o fenômeno do TikTok, músicas curtas e repetitivas têm tomado a atenção de um público mais jovem. Na contramão, temos a Maglore. “Não tenho nada contra e nem posso falar sobre o trabalho dos outros. Nesse álbum temos letras gigantes e eu fico impressionado como já tem gente cantando tudo. Esse é o formato de música que sei fazer”. 

Política

Com músicas que não pestanejam a respeito da posição política da banda, a Maglore não tem medo de perder fãs. Dito isso porque, temos visto em redes sociais a dissociação de fãs de grandes artistas como Racionais MCs e Roger Waters pelos seus respectivos discursos. “Eu estou aqui, de blusa verde e amarela, e eu posso tomar essa decisão sem que ninguém questione sobre as minhas posições. E quem acompanha a Maglore se identifica com isso. Não precisamos falar que somos de esquerda, assim como grande parte do meio artístico é”.

O single “Eles” representa muito bem isso. Sem citar nomes, a mensagem é clara: “Eles/Fuzis e botas em altos brasões/Forjam verdades e conspirações/Raio divino e exterminação/Pura avareza”. A pessoa que ouve Racionais ou ouve o Pink Floyd e vai reclamar de posição política (dos artistas), não prestou atenção nas letras. Me desculpe, mas é isso”. 

Turnê

A Maglore já iniciou a turnê para o álbum “V”, e, com cinco discos no currículo, a composição do repertório fica mais difícil. “Queremos tocar o álbum inteiro e vamos fazer isso. Não tem o que fazer, vamos tocar por 2 horas e meia ou mais, porque, claro, muita gente quer ouvir também nossas canções mais antigas. Para festivais, vamos ter que mesclar um pouco mais, reduzir esse tempo”. 

Siga a página da banda para saber informações sobre os próximos shows: https://www.instagram.com/magloreoficial/

Ouça o disco:


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