“Eu faço música de forma terapêutica, o tempo inteiro”, diz Cícero

“Canções de Apartamento” é um disco melancolicamente sincero; soa bossa nova sem parecer pretensioso, soa rock alternativo, sem parecer clichê

[Por Natasha Ramos]

O projeto solo do músico e compositor carioca Cícero Lins começou por acaso. Ele havia acabado de voltar de Nova York, onde passou seis meses, com a intenção de trabalhar para comprar equipamentos de gravação do que seria o terceiro disco de sua então banda, Alice.

“Acontece que quando eu voltei, a banda acabou, mas eu já havia adquirido os equipamentos. Então, resolvi continuar a carreira na música, com um trabalho solo, e daí surgiu o Canções de Apartamento”, conta Cícero ao Palco Alternativo.

O rapaz é formado em Direito, mas seu gosto mesmo sempre foi pela música: toca desde os 12 anos; aos 16 formou a Alice, na qual foi vocalista e guitarrista por cinco anos antes da banda terminar e, agora, aos 26 anos, com um elogiado álbum solo na bagagem, Cícero, que ficou conhecido como um fenômeno da internet, é considerado artista revelação na cena da música brasileira.

Ele gravou o disco no próprio apartamento e jogou na internet, para download gratuito, em meados de 2011. Sem explicação aparente, senão identificação do público com o trabalho –o rapaz não era apadrinhado por ninguém e sua promoção era feita por ele mesmo nas redes sociais–, o álbum caiu nas graças de um grande número de pessoas que comentavam, compartilhavam e baixavam o CD.

“Em pouco tempo, o disco ultrapassou os 100.000 downloads. Esse boom na internet foi bom porque me jogou num espectro muito grande de pessoas, o que fez com que muito mais gente se identificasse com o trabalho. Mas, eu estava esperando passar o oba-oba pra continuar o trabalho de formiguinha, uma coisa de cada vez”, conta.

Não demorou muito para ele chamar a atenção das gravadoras, que estão sempre em busca de um novo fenômeno para promover. Mas, ele só assinaria contrato com algum selo na condição de que o disco permanecesse para download integral e gratuito, como já estava. “Era uma questão de convicção, me coloquei inflexível nesse aspecto”, comenta. Foi então que a Deck aceitou e lançou o disco físico no começo deste ano.

“Acredito que [o download gratuito] seja mesmo o futuro. O CD ainda é importante, mas com uma função social diferente. Esse material é muito mais um objeto artístico do que um produto que visa o lucro”, explica.

Músicas do “Canções de Apartamento”

Capa do disco "Canções de Apartamento"

“Eu acho que o que eu faço é mais do mesmo, eu não inventei nada. Sou um fã de tudo isso que estou falando no disco: eu falo do Tom Jobim, do Caetano, coloquei um álbum do Radiohead na capa do “Canções…”. O que eu faço é sentir o mundo ao meu redor e transformar isso em uma explicação do que estou sentindo. No fundo, é uma releitura do que já foi feito que, por sua vez, já são releituras de outras coisas.”

Simplicidade é uma das características marcantes no disco de Cícero. Você consegue sentir, como num caldeirão de influências, tudo o que ele quis dizer. Além de suas influências musicais, que ficam bem claras no disco, Cícero se inspirou em sua vida, para abordar questões universais, como o afeto e a solidão.

“O disco tem muito de Beatles, Tom Jobim, Radiohead, João Gilberto, mas também tem muito mais de onde eu vim, das relações que eu tive ou não, elementos que dão as nuances para o que você está ouvindo”, diz o rapaz.

O resultado disso é um disco melancolicamente sincero, uma mistura de bossa nova com tropicalismo, sem soar pretensioso. Há nuances do rock alternativo, sem parecer clichê.

“Eu faço música de forma terapêutica, o tempo inteiro, desde os 13 anos. Fico o tempo todo registrando o que acontece comigo. No “Canções de Apartamento” foi a mesma coisa. Eu estava passando por um momento bem específico na minha vida: tinha acabado de sair de casa, acabado de terminar um relacionamento intenso, o que foi um momento difícil, tinha acabado a banda, acabado de voltar de Nova York, então foi uma conjunção de fatores que me pegaram nesse processo de fazer música o tempo inteiro”, complementa.

Do álbum de estreia, ele já lançou dois clipes, “Tempo de Pipa” e “Ponto Cego”. E, recentemente, o vídeo de “Açúcar ou Adoçante?”, gravado no Rio de Janeiro e dirigido por Fabio Adolpho de Sousa. Seguindo a ideia dos primeiros versos da música,“entra pra ver como você deixou o lugar”, no clipe, Cícero canta em um quarto no qual ele se locomove de forma não convencional.

Para conferir o trabalho na íntegra, basta clicar aqui!

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